Fragmento extraído do livro 120 Segundos de Sabedoria Cômica, Fabrício Carpinejar, 65s:
Não tem nada que me irrite tanto: quando meu computador estraga, quebra, pifa.
É um terror. Sofro o medo inicial de perder todos os arquivos, E-mails e textos.
Depois sofro o pânico de ser enganado com o conserto.
Qualquer coisa que seja dita, eu vou acreditar. Acho que essa sensação de ser passado para trás vem da falta de comunicação. O técnico chega calado e sai quieto.
Não justifica passo a passo, não indica formas de evitar a ocorrência, não detalha o que encontrou. Talvez nem ele saiba o que fez para arrumar.
Por mais que eu coloque antivírus, o problema continua sendo o antivírus.
Por mais que atualize o antivírus, faltou alguma atualização.
Os problemas sempre são os mesmos. Desde meu primeiro PC.
O técnico parece que faz um favor. Aparece em casa depois de esmolar muito sua visita.
Diz que é rapidinho. Assusme o comando da máquina às 19h, e são 23h, e ele ainda está lá.
Já perturbou totalmente a rotina, já sacrifiquei a agenda dos trabalhos, já briguei com a minha mulher que precisa acordar cedo.
Quando ele diz finalmente OK, testa em nossa frente e perfeito: tudo estabilizado novamente.
Aceito pagar mais do que aquilo que combinei ao telefone. Porque desejo me livrar logo da incomodação. Porque estou alegre que ele vai embora.
Ao ligar o computador sozinho e buscar recuperar o tempo perdido, acredita que não funciona? Tranca. Trunca. Trinca.
Eu me sinto um idiota ligando e desligando e rezando para o deus Windows.
O que eu aprendi?
Tenho que deixar um quartinho para o técnico em minha casa. Para ele dormir aqui.
Uma caminha no sofá do escritório.
É ele sair que o aparelho volta a estragar.
Daí vou cobrar pernoite, jantar e café da manhã.
Ficaremos quites.