Logo depois que terminei o ensino médio, no final de 2008, iniciei como
Estagiário de TI na Ritmo Veículos, uma concessionária da marca Fiat com lojas
em algumas cidades aqui no Rio Grande do Sul. As aulas mal haviam finalizado e
eu já estava lá, pronto para começar – apesar de ter sido realmente
"registrado" apenas na primeira semana de 2009. Meu sonho era trabalhar
naquele lugar, onde meu pai também trabalhava – na época, já por quase 30
anos.
Sabe aqueles filhos que quando o pai tem alguma profissão publicamente
admirada – como policial ou bombeiro, por exemplo – se gabam com orgulho
deles? No meu caso, era mais ou menos assim. Na infância, eu colava em todos
os meus carrinhos pequenas etiquetas com a escrita "Fiat" pra dizer que eles
também eram da marca. Nos finais de semana, algumas vezes pediam para o pai ir
fazer algum atendimento na empresa. Eu adorava ir junto e ficava fascinado com
todos aqueles carros diferentes, modernos e com cheirinho de novo. Na medida
que fui crescendo, seguia acompanhando o pai quando ele estava na escala de
trabalho nos sábados de manhã. Nestas situações, eu normalmente ficava o tempo
todo utilizando algum computador, pois em casa só tinha internet discada,
então eu aproveitava a oportunidade para navegar por uma conexão mais rápida.
Não tenho palavras para descrever estes momentos. Eram simplesmente incríveis
e guardo cada uma destas lembranças com muito carinho.
Mas voltando ao início da minha carreira como estagiário na Ritmo. Eu
simplesmente estava muito feliz em trabalhar com o que eu gostava e estudava
no curso técnico em informática. E ainda mais, em um lugar tão querido pra
mim. Depois de um ano como estagiário, fui efetivado. Meu cargo era Auxiliar
de CPD. Para quem não sabe, CPD é a sigla para Centro de Processamento de
Dados. Trata-se de uma maneira – já na época, meio obsoleta para referenciar o
data center ou mesmo a área de TI de uma empresa. Em todo o caso, ao passar de
estagiário e receber um cargo, fiquei muito orgulhoso.
Trabalhei na Ritmo até abril de 2012. Considerando o período do estágio,
fiquei lá por quase 3 anos e meio. Aprendi muito durante todo este tempo e fui
muito feliz. Afinal, meu trabalho consistia no que eu gostava de fazer, e ao
mesmo tempo, eu estava próximo do meu pai – que apesar de não trabalharmos no
mesmo setor – nós chegávamos juntos, almoçávamos juntos e saíamos juntos.
O urso da foto é o Gino Passione, um masconte da Fiat.
Meu trabalho na Ritmo era prestar suporte de microinformática aos usuários.
Além disso, também realizava a manutenção nos computadores, cuidava do estoque
de suprimentos de informática e executava pequenas tarefas de administração
dos servidores quando a responsável pelo setor – e também minha supervisora –
não estava. Graças a Deus, como profissional, nunca me faltou criatividade,
iniciativa e organização. Não é por menos que desde sempre – em qualquer lugar –, eu tive liberdade
e autonomia para fazer o meu trabalho da forma que eu desejasse. Portanto, até
hoje tenho orgulho de ter transformado computadores antigos – instalando uma
distribuição mais leve e gratuita de Linux – em terminais de conexão remota,
de ter consertado com o uso de um cabo USB caixinhas de som 110V que as pessoas
haviam queimado ao ligar em 220V, ou ainda, de ter desmontado estabilizadores
estragados para reutilizar as tomadas e refazer as conexões de energia
quebradas dos pequenos transformadores 110V para 220V utilizados nos telefones
sem fio.
Além da satisfação no trabalho, também me lembro de sentir uma energia tão boa
em relação a faculdade, a convivência com meu pai – a harmonia da nossa família, podendo chegar em casa e encontrar minha mãe e meu irmão – e aos meus projetos no tempo livre – como é o caso deste
blog. Basta olhar a quantidade de postagens que eu fiz naqueles anos. Foi o
período em que eu estive mais ativo por aqui. Lembro-me de ficar até tarde da
noite depois ainda de ter chegado da aula – muitas vezes até de madrugada –,
lendo, pesquisando e escrevendo novos posts. Na manhã seguinte, todos os dias, antes das 7h, o pai
já me chamava para sair da cama.
Acredito que por conta de tudo isso, todas essas recordações boas, sensações
gostosas e saudades deste tempo, é que eu sonho que ainda estou trabalhando na
Ritmo. São sonhos bastante recorrentes. Pelo menos a cada 15 dias eles aparecem. Não me incomodo. Pelo contrário, até gosto. Mas é estranho. Já se
passaram 11 anos desde que saí da Ritmo, onde foi meu primeiro emprego. Tantas coisas
aconteceram desde então – viagem, namoro, formatura, perdas, casamento, casa
própria, carro e duas trocas de empregos. Mas apesar de tudo isso, nos meus sonhos,
eu ainda estou na Ritmo: aprendendo, testando, fazendo minhas invenções, atendendo as pessoas – diariamente ao lado do meu pai –, e
sendo feliz.
P.S.: Infelizmente a Ritmo Veículos não existe mais. Em 2016, as lojas foram adquiridas por um outro grupo de concessionárias Fiat e sua operação administrativa foi encerrada.