A Quinta Literária de hoje traz um formato diferente de produção. Considerando que o dia da postagem chegou e acabamos ficando sem material para publicar, seguimos a dica do Mateus Kern, apelando pra um texto licenciado em domínio público. A obra foi publicada por Ricardo Guilherme dos Santos e revisada pela última vez em 18 de julho de 2010:
Tive um sonho estranho (tenho vários assim). Desta vez, sonhei que bilhões (talvez trilhões) de anos haviam se passado. O Universo estava decadente. Eu era uma espécie de “super herói”, viajando pelo espaço em busca de soluções para o caos que se instalara. Pretensioso, não? Bem, era apenas um sonho.
Eu tentava descobrir a razão de existirmos (minha mente está sempre repleta de perguntas desse tipo) e um meio para continuarmos a existir. O Universo se expandira demais, estava congelando. Planetas morriam (criaturas morriam!), sóis explodiam. Tudo que se via era desolação e destruição. Entrei em desespero.
Em minha nave, confuso, tracei um novo destino. Busquei vida em lugares distantes, novos lares. Mas tudo era mais do mesmo: o Universo é repetição. Só encontrei apatia. Decepção.
Viajei para um futuro ainda mais distante. Resolvi buscar, no fim de tudo, alguma explicação. Em todos os cantos, no entanto, o Universo estava escuro com breu. Tudo se resumira a um vazio imenso, avassalador. Revoltei-me.
Restara apenas uma tímida anã vermelha, anunciando o fim da Era Estelífera (*). Ao menos, a pequena estrela era simpática. Mas não tinha respostas (cadê Deus?). Era apenas mais uma vítima: a longevidade também é passageira.
Percebi que o fim estava próximo. Não sabia o que fazer. Dentro de meu sofisticado engenho, sentia-me responsável por cada criatura viva no Universo (um herói deve ser um salvador). O peso sobre minhas costas era enorme. Pensei em soluções mágicas; fiz uma prece. Não adiantou.
Imaginei então o seu abraço. Senti-me um idiota (um abraço imaginário para evitar o fim de tudo?). Sorri nervosamente; fechei os olhos; esperei o fim. Surpreso, notei uma luz diante deles. Parece que aquele instante de ternura iluminara toda a escuridão. A vida brotara novamente. Emocionado, chorei.
Ouvi aplausos e gritos de euforia, que ecoaram em meus ouvidos como um mantra de gratidão. Não sei de onde vieram, acho que de todos os lugares. Empolgação.
Fiquei feliz, mas não compreendi o que acontecera. Perguntei-me se salvara o Universo, se você me salvara, ou se o amor é que salvara todo mundo. Mais uma vez, no entanto, não havia respostas. Ou havia, mas eram tão simples que eu não fora capaz de entender...
Acordei tão confuso quanto estava em meu sonho, mas com um novo brilho nos olhos: de alguma maneira, eu não apenas acordara; renascera. Mas não sabia a razão. Só entendo o que é complicado.
(*) - Segundo os cientistas Fred C. Adams e Gregory Laughlin (livro "Uma Biografia do Universo: do Big Bang à Desintegração Final"; Jorge Zahar Editor; 2001), o universo pode ser dividido em cinco eras: a Era Primordial, a Era Estelífera, a Era Degenerada, a Era dos Buracos Negros e a Era das Trevas. Segundo estes autores, estamos na chamada Era Estelífera, que chegará ao fim num futuro muito distante, quando a última anã vermelha se apagar. No glossário deste livro, Fred C. Adams e Gregory Laughlin definem anã vermelha como sendo "Outro nome dado às estrelas de massa reduzida, com cerca de 10-40% da massa solar". Afirmam eles que "As anãs vermelhas são as estrelas mais numerosas e de vida mais longa dentre todas as estrelas possíveis" (obra citada, página 253).
Eu tentava descobrir a razão de existirmos (minha mente está sempre repleta de perguntas desse tipo) e um meio para continuarmos a existir. O Universo se expandira demais, estava congelando. Planetas morriam (criaturas morriam!), sóis explodiam. Tudo que se via era desolação e destruição. Entrei em desespero.
Em minha nave, confuso, tracei um novo destino. Busquei vida em lugares distantes, novos lares. Mas tudo era mais do mesmo: o Universo é repetição. Só encontrei apatia. Decepção.
Viajei para um futuro ainda mais distante. Resolvi buscar, no fim de tudo, alguma explicação. Em todos os cantos, no entanto, o Universo estava escuro com breu. Tudo se resumira a um vazio imenso, avassalador. Revoltei-me.
Restara apenas uma tímida anã vermelha, anunciando o fim da Era Estelífera (*). Ao menos, a pequena estrela era simpática. Mas não tinha respostas (cadê Deus?). Era apenas mais uma vítima: a longevidade também é passageira.
Percebi que o fim estava próximo. Não sabia o que fazer. Dentro de meu sofisticado engenho, sentia-me responsável por cada criatura viva no Universo (um herói deve ser um salvador). O peso sobre minhas costas era enorme. Pensei em soluções mágicas; fiz uma prece. Não adiantou.
Imaginei então o seu abraço. Senti-me um idiota (um abraço imaginário para evitar o fim de tudo?). Sorri nervosamente; fechei os olhos; esperei o fim. Surpreso, notei uma luz diante deles. Parece que aquele instante de ternura iluminara toda a escuridão. A vida brotara novamente. Emocionado, chorei.
Ouvi aplausos e gritos de euforia, que ecoaram em meus ouvidos como um mantra de gratidão. Não sei de onde vieram, acho que de todos os lugares. Empolgação.
Fiquei feliz, mas não compreendi o que acontecera. Perguntei-me se salvara o Universo, se você me salvara, ou se o amor é que salvara todo mundo. Mais uma vez, no entanto, não havia respostas. Ou havia, mas eram tão simples que eu não fora capaz de entender...
Acordei tão confuso quanto estava em meu sonho, mas com um novo brilho nos olhos: de alguma maneira, eu não apenas acordara; renascera. Mas não sabia a razão. Só entendo o que é complicado.
(*) - Segundo os cientistas Fred C. Adams e Gregory Laughlin (livro "Uma Biografia do Universo: do Big Bang à Desintegração Final"; Jorge Zahar Editor; 2001), o universo pode ser dividido em cinco eras: a Era Primordial, a Era Estelífera, a Era Degenerada, a Era dos Buracos Negros e a Era das Trevas. Segundo estes autores, estamos na chamada Era Estelífera, que chegará ao fim num futuro muito distante, quando a última anã vermelha se apagar. No glossário deste livro, Fred C. Adams e Gregory Laughlin definem anã vermelha como sendo "Outro nome dado às estrelas de massa reduzida, com cerca de 10-40% da massa solar". Afirmam eles que "As anãs vermelhas são as estrelas mais numerosas e de vida mais longa dentre todas as estrelas possíveis" (obra citada, página 253).
Fonte: eTextos